hUgo escreveu:Opiniões interessantes. Nas generalidade concordo. Gostaria de sublinhar o seguinte:
"Algumas têm a sua dose útil (que provoca o efeito desejado) muito próxima da dose letal, o que as torna especialmente perigosas, principalmente no cenário proibicionista e de mercado negro em que é muitas vezes impossível determinar a dose de maneira fiável devido às contaminações e adulterações das substâncias."
De facto é verdade. Normalmente não se tem a certeza absoluta do que se está a tomar ou da pureza do que se está a tomar... Isso facilita enganos nas doses, o que por vezes pode ser muito perigoso.
Exacto. Falou-se muito da suposta overdose de uma cidadã israelita no Freedom Festival. Ainda não se falou de resultados da autópsia mas pelo que consta (rumor, não tenho confirmação disto) terá sido por ter consumido cocaína cortada com atropina.
Outro caso, exemplo perfeito do efeito falado acima: Há um ou dois anos atrás deram à costa nos açores pacotes de cocaína com elevado grau de pureza. Alguma dessa cocaína chegou às ruas a baixo preço. Vários consumidores, habituados a cocaína com pouca pureza e alto preço, foram vítimas de overdoses por não saberem calcular a dose de cocaína tão pura.
Outras drogas populares como o mdma (Ecstasy) são drogas muito "sujas", ou seja, a proporção de princípio activo em relação ao peso da "pastilha" é muito pequena. O resto são contaminantes e adulterantes. Muitas vezes estes "aditivos" são bem mais prejudiciais que a própria substância.
O mesmo acontece com o vulgar haxixe marroquino. O vulgar chamon, sabonete, lingua, tem muito pouco ou nenhum haxixe. O grosso do volume é matéria vegetal triturada misturada com aglomerantes (cera, parafina, leite condensado), corantes (henna, café) e outros aditivos para dar aroma (resina de pinheiro, Vicks vapo'rub). Terá apenas uma pequena percentagem (5% ou 10%) de resina de cannabis com um pouco de sorte. Por vezes a mistura é tão fraca que até barbitúricos e outras substâncias perigosas são misturados para a mistela dar algum efeito. Esta mistura que por vezes tem até tabaco, solventes, areia e estrume na sua composição tem um impacto muito mas muito maior na saúde do consumidor do que pura resina de canábis que deveria ser o único constituinte do haxixe. Hoje em dia quem quer realmente produtos de cannabis de confiança ou vai directamente ao produtor, em Marrocos, ou então produz em casa, arriscando-se a uma pena de prisão se for descoberto pelas autoridades (mesmo que seja uma única planta para consumo próprio).
hUgo escreveu:Em relação ao risco pulmunar de fumar Cannabis "que pode facilmente ser evitado vaporizando ou ingerindo"...
Verdade, mas não esquecer que ingerindo outros riscos podem surgir (estado de coma, dificuldade de controlar a dose, bad trip etc...)
Mas mesmo em relação aos riscos pulmunares da Cannabis há indicadores contraditórios... Um estudo do ano passado da UCLA não encontrou tal relação. Pena não ser fácil aceder ao estudo; de qualquer modo aqui está a notícia Marijuana Does Not Raise Lung Cancer Risk (FoxNews)
Sim, até penso que há outros estudos que indicam o mesmo. Cannabis parece não provocar cancro mas quando falei nos riscos para o sistema respiratório não estava a falar do risco de cancro mas sim do risco de enfisema, obstrução pulmonar e inflamações das vias. Estes riscos embora não tão graves como o de cancro, devem ser previnidos e podem sê-lo vaporizando cannabis em vez de fumar.
Quanto a ingerir, sim, é dificil calcular a dose e a intensidade do efeito depende de outros factores que não a dose (se se está de estômago vazio ou cheio, se se comeram alimentos com gordura, depende também do metabolismo de cada um). Pessoas diferentes podem também ter efeitos de intensidade muito diferente. Além disso o efeito demora algum tempo a surgir (a mim normalmente demora cerca de uma hora a fazer efeito) o que por vezes leva consumidores a continuarem a consumir antes do efeito surgir pensando que ingeriram uma dose muito pequena. Por acaso nunca ouvi falar de casos de coma mas realmente é fácil consumir uma dose demasido grande o que não é nada agradável e o efeito pode prolongar-se durante vários dias.
hUgo escreveu:Irónico que apesar de toda a proibição de substâncias e controlo de costumes hoje em dia o adolescente norte-americano típico, mesmo que branco, fuma Ganja, ouve hip-hop, fala e tem costumes típicos de negros, hispânicos ou índios... Ou seja, o puritanismo cultural não parece ter futuro e as leis que vêm do tempo em que esse puritanismo se julgava possível podem bem ser revistas.
Muito bem visto!
hUgo escreveu:Afinal, a quem interessa o proibicionismo?! Quem ganha e quem perde com ele?
Tenho uma muito boa resposta a esta pergunta, dada pelo prof. Luis Fernandes da Universidade do Porto. Vou ver se a encontro e posto aqui.
Obrigado pela resposta, acho que estamos em sintonia em muitos aspectos.
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