Em Maio passado esteve no Porto Theo van Dam, pioneiro na área da defesa dos direitos dos consumidores de drogas. Nesta visita, Theo esteve com consumidores de drogas e técnicos da área, tendo-se encontrado depois com polícias e políticos, a quem transmitiu as necessidades sentidas por consumidores e técnicos. Além de também ter estado presente na Marcha pela Marijuana. Esta visita foi promovida pela APDES que, entre outros, promove os projectos Check-in e GiruGaia...
Segue-se a transcrição da reportagem do jornal Público.
11.05.2007, Ana Cristina Pereira
"O holandês que ensina consumidores de droga a lutar pelos seus direitos
Theo van Dam, precursor da redução de danos que já ajudou a criar mais de quatro dezenas de Associações de Defesa dos Consumidores de Drogas por toda a Europa, esteve no Porto a dar dicas a um grupo de toxicodependentes portugueses. A associação talvez se chame GNR
"Vocês disseram que gostariam de fazer redução de riscos em cooperação com as equipas de rua. Se calhar, podem traduzir a linguagem de rua para os técnicos." E vice-versa. Theo van Dam mostra um cartão branco de alinhadas letras vermelhas com conselhos para evitar overdose. "Podiam fazer uma coisa destas." Um rapaz
toma a palavra. Já arranjou uma tipografia disposta a imprimir "de borla". Palmas. "Isso mostra que colocaste energia nisto. Se agirem de forma positiva, as pessoas podem estar abertas às vossas ideias."
Segunda-feira, Theo revelava-se "céptico", terça transpirava confiança. "Eles já estão a preparar coisas." "Eles" são os toxicodependentes que assistiram à acção de formação centrada em estratégias para criar uma associação de defesa dos consumidores de drogas. Denunciando algum sentido de humor, até já falam num hipotético nome: GNR (Grupo Não Risco).
O "padrinho" foi escolhido a dedo. Mesmo quando era consumidor, Theo "lutava" pelos seus direitos. Agora, que tem 53 anos, ostenta um extenso currículo de incentivo aos toxicodependentes a assumirem as suas próprias lutas. Membro da velha Junkiebond (a associação holandesa de utilizadores de drogas que despoletou em 1984 o primeiro
programa de troca de seringas do mundo), ajudou a fundar mais de 40 Associações de Defesa dos Consumidores de Drogas por toda a Europa. E esta semana cá está a dar formação a utilizadores e a técnicos, numa acção promovida pela Agência Piaget para o Desenvolvimento (APDES), na Faculdade de Psicologia e Ciências de Educação da Universidade do Porto.
Como poupar as veias
O P2 assistiu à segunda sessão com os consumidores. Ouviu discutir e aprovar passos concretos para constituir a primeira associação do género em Portugal. Como arranjar os 150 euros necessários para a formalizar? Onde reunir? Como garantir o transporte? Por onde começar? Para cada questão, uma resposta assente no apoio prestado pelos técnicos que trabalham presentes nos locais de consumo (da APDES, da Filos, da Gaf, do Espaço Pessoa, da Norte Vida). "Eles percebem que têm falta de informação", comenta o fundador da Landelijk Sternpunt Druggebruikers (associação de defesa dos direitos dos consumidores, criada na Holanda em 1995, fomenta diversos programas de redução de danos). "Muitos materiais oficiais parecem bonitos e profissionais, mas não estão escritos numa linguagem adequada." A longa experiência de Theo fá-lo coleccionar estórias. Como a de um treino feito, há uns anos, em Amesterdão. A enfermeira dizia para se injectarem no sentido do coração, para pouparem as veias. E os toxicodependentes "pareciam não estar a ouvir". Theo perguntou-lhes: "Ficam pedrados assim? Se se injectam na direcção errada, o sangue sai e a heroína entra, o efeito é menor." Decorridos uns meses, numa estação de comboios, alguém lhe tocou no ombro - "Theo, ainda me injecto na direcção correcta e é muito bom!" Os braços estavam melhores. "Estava a tomar conta
das veias, não pelas veias, mas pelo seu hábito." Theo fica "contente com coisas destas". O efeito pretendido é igual, apenas a linguagem é diferente. Acredita que, se a redução de danos usar a linguagem dos
consumidores, "haverá mais gente a prestar atenção". A mensagem propagar-se-á como "uma conversa de velhas". Há exemplos práticos ensaiados lá fora sobre o que pode ser feito cá "com pouco dinheiro". Frente a uma meia de leite que se vai tornando fria, Theo tira um baralho de cartas belga. Cada carta contém uma mensagem. Por exemplo: se consumires heroína depressa, corres mais riscos de overdose. "Mesmo que as pessoas não leiam sempre, vêem e interiorizam alguma coisa."
Muitos consumidores gostam de jogar às cartas. Na Holanda, há um baralho de cartas com fotografias de consumidores mais velhos, que usam drogas há muitos anos. Dois exemplos: uma carta com uma mulher a anunciar - "Uso preservativo com o meu namorado e funciona"; outra com um homem a assegurar - "Nunca partilho seringas." "Todos sabem que ele partilha. Jogam, vêem a cara dele, riem-se e dizem: "Lá está ele outra
vez!""Ao reconhecer o rosto daquele homem, os jogadores falam sobre o seu comportamento. E, ao fazê-lo, estão a falar sobre uso seguro de drogas. O jogo pode ser "divertido". Mais ainda "se as caras tiverem a imagem de consumidores conhecidos". Na Holanda, muitos conhecem-se da prisão, das salas de consumo assistido, das comunidades terapêuticas, das ruas.
"Ainda estás vivo?"
Que deseja aquela dúzia de homens que parece beber cada palavra pronunciada por Theo e logo traduzida por um ou outro técnico? "Queremos lutar por um mundo melhor. Quem não conseguir deixar de consumir, consuma de uma forma segura", exprime Vasco. "Queremos esclarecer o público, combater os preconceitos que têm sobre os toxicodependentes", acrescenta Luís. "Dizer que um drogado é uma pessoa normal", volta Vasco. Luís pega na frase: "Para a maior parte das pessoas os consumidores são delinquentes, marginais. Todos. Estou a escrever um livrinho que se chama: "O que vocês não sabem". "Compromisso assumido. Os toxicodependentes que esta semana se entusiasmaram com a ideia de criar uma associação não querem só fazer cartões com informação útil numa linguagem de rua. Ambicionam fazer mais, até uma revista. Que tal pedir ajuda aos alunos do curso de jornalismo da Universidade do Porto?, sugere Theo, mostrando a Mainline, um revista holandesa feita por jornalistas credenciados para consumidores de droga. A Mainline traz testemunhos. Anúncios de consumidores que procuram outros consumidores: "Conhecemo-nos há sete anos na cadeia, divertimo-nos, ainda estás vivo?" Um motivo, como qualquer outro, para ler a revista, que dá muita informação prática. Já houve uma série sobre formas criativas, não criminosas, de angariar fundos para o consumo. "Um indivíduo contava que ia para o aeroporto pedir dinheiro aos turistas que estavam a sair da Holanda para o Japão e para os EUA com moedas que não iam gastar e não podiam trocar." Para Theo, este partilha de informação também é redução de danos. "A redução de danos é tão importante para os utilizadores como para o resto da sociedade".
Em defesa das salas de chuto
11.05.2007
Quem não aprecia o consumo "não tem energia para mudar de vida" Theo van Dam não gosta "de Aleixos". A sua visita ao bairro do Aleixo, no Porto, "foi terrível". Já viu muitos bairros de venda e consumo, mas não se habitua. "Estive com a equipa de rua [da Norte Vida] e as pessoas trocavam as seringas e iam-se embora depressa. Conversei com algumas, disseram todas o mesmo. Não podem apreciar o hábito, têm de ter cuidado, de olhar à volta, não têm tempo para apreciar. E isso significa que não têm tempo nem energia para mudar as suas vidas." Está "feliz com as salas de consumo assistido na Holanda". Não é só o acesso a material esterilizado. As pessoas "podem consumir de forma relaxada e isso significa que usam menos, porque começaram a apreciar outra vez. Têm tempo, estão sentados num sítio seguro, não precisam de ter medo da polícia, de roubos. E os resultados, não só na Holanda mas em todo o lado, são positivos. Conheço muitos consumidores que deixaram a droga por causa das salas de consumo assistido". Ontem, em mais um encontro, advogou os benefícios das salas de chuto junto de alguns decisores políticos portugueses. Um conselho: "Em Frankfurt, 300 a 400 pessoas visitam a sala. É de mais. Não se pode lidar com isso. Na Holanda, optamos por salas pequenas. Os trabalhadores conhecem os consumidores pelo nome e isso gera aproximação. Se optarem por um programa pequeno podem ver que funciona, é saudável para os utilizadores e não é um problema para os vizinhos." Houve uma localização muito contestada na Holanda. Um morador meteu uma acção em tribunal. Ano e meio depois, a associação de consumidores quis celebrar. "Convidámos os vizinhos, os jornalistas. O vizinho que tinha ido a tribunal, dono de uma companhia de táxis, declarou em público que tinha de ser honesto, que as coisas estavam melhores do que antes. Os consumidores tinham um projecto de trabalho, limpavam a zona e agora limpam os táxis por alguns euros."
A troca de seringas é apenas "uma pequena parte" da redução de danos: "É muito importante estar em contacto com os consumidores, mostrar que os respeitas." Já trabalhou num centro de apoio. "Sentava-me sempre na mesa maior com o jornal e discutia todos os artigos que lia. Dava a minha opinião e as pessoas podiam reagir. Isto é útil, porque elas precisam de tirar o pensamento do consumo. Os trabalhadores sociais e os psicólogos estão treinados para falar sobre problemas, mas às vezes é melhor começar por falar das eleições em França." Theo acredita numa associação directa entre "algum descanso, alguma paz", e a mudança. Na Holanda, fez uma pesquisa com uma amostra de 800 consumidores sobre a dor de perder um ser amado. E muitos disseram-lhe: "Se o trabalhador social prestasse atenção à minha dor, eu usava menos." Não é só quando um namorado ou namorada morre, também quando perdem o emprego, quando lhes tiram os filhos. "Muitos trabalhadores sociais pensam: "Primeiro tens de te desintoxicar, depois vemos o que se passa." E muitos deles dizem: "Não, primeiro tenho de lidar com a dor, depois desintoxico, se quiser."
Segue-se a transcrição da reportagem do jornal Público.
11.05.2007, Ana Cristina Pereira
"O holandês que ensina consumidores de droga a lutar pelos seus direitos
Theo van Dam, precursor da redução de danos que já ajudou a criar mais de quatro dezenas de Associações de Defesa dos Consumidores de Drogas por toda a Europa, esteve no Porto a dar dicas a um grupo de toxicodependentes portugueses. A associação talvez se chame GNR
"Vocês disseram que gostariam de fazer redução de riscos em cooperação com as equipas de rua. Se calhar, podem traduzir a linguagem de rua para os técnicos." E vice-versa. Theo van Dam mostra um cartão branco de alinhadas letras vermelhas com conselhos para evitar overdose. "Podiam fazer uma coisa destas." Um rapaz
toma a palavra. Já arranjou uma tipografia disposta a imprimir "de borla". Palmas. "Isso mostra que colocaste energia nisto. Se agirem de forma positiva, as pessoas podem estar abertas às vossas ideias."
Segunda-feira, Theo revelava-se "céptico", terça transpirava confiança. "Eles já estão a preparar coisas." "Eles" são os toxicodependentes que assistiram à acção de formação centrada em estratégias para criar uma associação de defesa dos consumidores de drogas. Denunciando algum sentido de humor, até já falam num hipotético nome: GNR (Grupo Não Risco).
O "padrinho" foi escolhido a dedo. Mesmo quando era consumidor, Theo "lutava" pelos seus direitos. Agora, que tem 53 anos, ostenta um extenso currículo de incentivo aos toxicodependentes a assumirem as suas próprias lutas. Membro da velha Junkiebond (a associação holandesa de utilizadores de drogas que despoletou em 1984 o primeiro
programa de troca de seringas do mundo), ajudou a fundar mais de 40 Associações de Defesa dos Consumidores de Drogas por toda a Europa. E esta semana cá está a dar formação a utilizadores e a técnicos, numa acção promovida pela Agência Piaget para o Desenvolvimento (APDES), na Faculdade de Psicologia e Ciências de Educação da Universidade do Porto.
Como poupar as veias
O P2 assistiu à segunda sessão com os consumidores. Ouviu discutir e aprovar passos concretos para constituir a primeira associação do género em Portugal. Como arranjar os 150 euros necessários para a formalizar? Onde reunir? Como garantir o transporte? Por onde começar? Para cada questão, uma resposta assente no apoio prestado pelos técnicos que trabalham presentes nos locais de consumo (da APDES, da Filos, da Gaf, do Espaço Pessoa, da Norte Vida). "Eles percebem que têm falta de informação", comenta o fundador da Landelijk Sternpunt Druggebruikers (associação de defesa dos direitos dos consumidores, criada na Holanda em 1995, fomenta diversos programas de redução de danos). "Muitos materiais oficiais parecem bonitos e profissionais, mas não estão escritos numa linguagem adequada." A longa experiência de Theo fá-lo coleccionar estórias. Como a de um treino feito, há uns anos, em Amesterdão. A enfermeira dizia para se injectarem no sentido do coração, para pouparem as veias. E os toxicodependentes "pareciam não estar a ouvir". Theo perguntou-lhes: "Ficam pedrados assim? Se se injectam na direcção errada, o sangue sai e a heroína entra, o efeito é menor." Decorridos uns meses, numa estação de comboios, alguém lhe tocou no ombro - "Theo, ainda me injecto na direcção correcta e é muito bom!" Os braços estavam melhores. "Estava a tomar conta
das veias, não pelas veias, mas pelo seu hábito." Theo fica "contente com coisas destas". O efeito pretendido é igual, apenas a linguagem é diferente. Acredita que, se a redução de danos usar a linguagem dos
consumidores, "haverá mais gente a prestar atenção". A mensagem propagar-se-á como "uma conversa de velhas". Há exemplos práticos ensaiados lá fora sobre o que pode ser feito cá "com pouco dinheiro". Frente a uma meia de leite que se vai tornando fria, Theo tira um baralho de cartas belga. Cada carta contém uma mensagem. Por exemplo: se consumires heroína depressa, corres mais riscos de overdose. "Mesmo que as pessoas não leiam sempre, vêem e interiorizam alguma coisa."
Muitos consumidores gostam de jogar às cartas. Na Holanda, há um baralho de cartas com fotografias de consumidores mais velhos, que usam drogas há muitos anos. Dois exemplos: uma carta com uma mulher a anunciar - "Uso preservativo com o meu namorado e funciona"; outra com um homem a assegurar - "Nunca partilho seringas." "Todos sabem que ele partilha. Jogam, vêem a cara dele, riem-se e dizem: "Lá está ele outra
vez!""Ao reconhecer o rosto daquele homem, os jogadores falam sobre o seu comportamento. E, ao fazê-lo, estão a falar sobre uso seguro de drogas. O jogo pode ser "divertido". Mais ainda "se as caras tiverem a imagem de consumidores conhecidos". Na Holanda, muitos conhecem-se da prisão, das salas de consumo assistido, das comunidades terapêuticas, das ruas.
"Ainda estás vivo?"
Que deseja aquela dúzia de homens que parece beber cada palavra pronunciada por Theo e logo traduzida por um ou outro técnico? "Queremos lutar por um mundo melhor. Quem não conseguir deixar de consumir, consuma de uma forma segura", exprime Vasco. "Queremos esclarecer o público, combater os preconceitos que têm sobre os toxicodependentes", acrescenta Luís. "Dizer que um drogado é uma pessoa normal", volta Vasco. Luís pega na frase: "Para a maior parte das pessoas os consumidores são delinquentes, marginais. Todos. Estou a escrever um livrinho que se chama: "O que vocês não sabem". "Compromisso assumido. Os toxicodependentes que esta semana se entusiasmaram com a ideia de criar uma associação não querem só fazer cartões com informação útil numa linguagem de rua. Ambicionam fazer mais, até uma revista. Que tal pedir ajuda aos alunos do curso de jornalismo da Universidade do Porto?, sugere Theo, mostrando a Mainline, um revista holandesa feita por jornalistas credenciados para consumidores de droga. A Mainline traz testemunhos. Anúncios de consumidores que procuram outros consumidores: "Conhecemo-nos há sete anos na cadeia, divertimo-nos, ainda estás vivo?" Um motivo, como qualquer outro, para ler a revista, que dá muita informação prática. Já houve uma série sobre formas criativas, não criminosas, de angariar fundos para o consumo. "Um indivíduo contava que ia para o aeroporto pedir dinheiro aos turistas que estavam a sair da Holanda para o Japão e para os EUA com moedas que não iam gastar e não podiam trocar." Para Theo, este partilha de informação também é redução de danos. "A redução de danos é tão importante para os utilizadores como para o resto da sociedade".
Em defesa das salas de chuto
11.05.2007
Quem não aprecia o consumo "não tem energia para mudar de vida" Theo van Dam não gosta "de Aleixos". A sua visita ao bairro do Aleixo, no Porto, "foi terrível". Já viu muitos bairros de venda e consumo, mas não se habitua. "Estive com a equipa de rua [da Norte Vida] e as pessoas trocavam as seringas e iam-se embora depressa. Conversei com algumas, disseram todas o mesmo. Não podem apreciar o hábito, têm de ter cuidado, de olhar à volta, não têm tempo para apreciar. E isso significa que não têm tempo nem energia para mudar as suas vidas." Está "feliz com as salas de consumo assistido na Holanda". Não é só o acesso a material esterilizado. As pessoas "podem consumir de forma relaxada e isso significa que usam menos, porque começaram a apreciar outra vez. Têm tempo, estão sentados num sítio seguro, não precisam de ter medo da polícia, de roubos. E os resultados, não só na Holanda mas em todo o lado, são positivos. Conheço muitos consumidores que deixaram a droga por causa das salas de consumo assistido". Ontem, em mais um encontro, advogou os benefícios das salas de chuto junto de alguns decisores políticos portugueses. Um conselho: "Em Frankfurt, 300 a 400 pessoas visitam a sala. É de mais. Não se pode lidar com isso. Na Holanda, optamos por salas pequenas. Os trabalhadores conhecem os consumidores pelo nome e isso gera aproximação. Se optarem por um programa pequeno podem ver que funciona, é saudável para os utilizadores e não é um problema para os vizinhos." Houve uma localização muito contestada na Holanda. Um morador meteu uma acção em tribunal. Ano e meio depois, a associação de consumidores quis celebrar. "Convidámos os vizinhos, os jornalistas. O vizinho que tinha ido a tribunal, dono de uma companhia de táxis, declarou em público que tinha de ser honesto, que as coisas estavam melhores do que antes. Os consumidores tinham um projecto de trabalho, limpavam a zona e agora limpam os táxis por alguns euros."
A troca de seringas é apenas "uma pequena parte" da redução de danos: "É muito importante estar em contacto com os consumidores, mostrar que os respeitas." Já trabalhou num centro de apoio. "Sentava-me sempre na mesa maior com o jornal e discutia todos os artigos que lia. Dava a minha opinião e as pessoas podiam reagir. Isto é útil, porque elas precisam de tirar o pensamento do consumo. Os trabalhadores sociais e os psicólogos estão treinados para falar sobre problemas, mas às vezes é melhor começar por falar das eleições em França." Theo acredita numa associação directa entre "algum descanso, alguma paz", e a mudança. Na Holanda, fez uma pesquisa com uma amostra de 800 consumidores sobre a dor de perder um ser amado. E muitos disseram-lhe: "Se o trabalhador social prestasse atenção à minha dor, eu usava menos." Não é só quando um namorado ou namorada morre, também quando perdem o emprego, quando lhes tiram os filhos. "Muitos trabalhadores sociais pensam: "Primeiro tens de te desintoxicar, depois vemos o que se passa." E muitos deles dizem: "Não, primeiro tenho de lidar com a dor, depois desintoxico, se quiser."